quarta-feira, 17 de março de 2010

Irina Ionesco - Espelhos de Luz e Sombra

Algo muito importante está acontecendo na Caixa Cultural São Paulo. Estou falando da exposição Espelhos de Luz e Sombra, da fotógrafa francesa Irina Ionesco. A trajetória da artista foi bastante singular. Bailarina, sofreu um acidente e interrompeu a carreira. Então, ganhou uma Nikon, nos idos de 1968, e isso, segundo ela, foi como um "acaso objetivo" o que resultou em um caminho que se abriu como sói acontecer com os caminhos "incubados pelo desejo".

Vejam ainda o que ela nos diz no último parágrafo do texto publicado no portfólio Irina Ionesco Elle-même. Ed. PTYX, Tóquio, 1996, traduzido por Betch Cleinman para o catálogo da exposição na Caixa Cultural São Paulo:

Recebi esta câmera como um mistério. E é, graças a essa mulher, jovem linda e louca, que vivia trancada em um quarto faustuoso, sentada a maior parte do tempo na frente de uma penteadeira psyché composta de três espelhos ovais, onde ela se refletia penteando incansavelmente sua cabeleira luxuriante, que comecei a usar a Nikon F. Calada, assim ela ficava... às vezes ela falava, contando-me do seu desejo de ser bela e de poder congelar sua imagem, impedindo-a de se desfazer. Foi assim que nasceu em mim o imperioso desejo de utilizar a Nikon. Eu lhe propus um dia de primavera de sair de sua tebaida, de vir até a minha casa. Então, eu a enfeitei, a maquiei, eu a criei. E através desse terceiro olho, ela pareceu maravilhosa e imortal... Foi a minha primeira fotografia de mulher. As da minha filha Eva também serviram no início para reter o tempo e o momento presente. A alquimia da lembrança constitui a trama do meu trabalho.


Odalisque, 1980
Le Destin, 1975
Icône Byzantine, 1978
Roumanie, 1977
Jocelyne, 1974
Eva à la Plume, 1978

Depois de ver os quadros, pude assistir a um documentário em que Irina aparece falando. Algo que retive, de tudo o que ouvi, foi quando ela nos conta que as imagens que ela cria, inclusive toda essa produção para as modelos, são um modo de se relacionar com as pessoas que amou, seu pai, sua mãe, e que ela não tem controle sobre o resultado dessas imagens: ela diz que se sente como uma médium, enquanto está trabalhando. Então, eu compreendi tudo, todo o trabalho. Só por ouvir esse fragmento de sua fala. Havia mesmo ali qualquer coisa que me parecia algo imaterial, etéreo e fantasmagórico, incluído aí o barroquismo de certas encenações fotográficas.

Se eu fosse vocês, eu iria correndo ver a esse espetáculo, o de uma mulher que está falando de um outro lugar, que não o meramente banal e cotidiano. Por isso só, a experiência de conhecer tais imagens já é fascinante.

Um detalhe que eu também achei revelador e meigo: A primeira foto é de um gatinho (um felino) e temos ao lado da foto essa inscrição - Esta exposição é dedicada à memória de Brousse, mon amour.

Irina Ionesco - Espelhos de Luz e Sombra
Caixa Cultural São Paulo
Praça da Sé, 111
Informações: (11) 3321-4400
6 de março a 11 de abril de 2010
Entrada Franca \o/

2 comentários: